sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

A brisa leve do luar...




'' Mas temos sorte. Temos sorte de ter memória. Temos sorte porque as caixas de cartas estão em lugar seguro, longe de umidade e luz direta. Temos sorte porque podemos nos refazer dos sustos, dos improvisos danosos e de nossa falta de experiência. Temos sorte, tem razão, eu e você, porque ainda somos eu e você.
(...)
E o dia era tão intenso que não prestamos atenção. Era dia. Não vimos quando a luz se perdeu. E o que ficou?''


Diogo terminara de ler pela milésima vez, a carta de Pietro.
Cartas eram constantes no relacionamento deles.
E Diogo adorava. Dizia que Pietro tinha todo um jeito Cazuza de ser. Amava escrever. Amava Clarice Lispector. Amava Cartola.
Aquela carta, era a última que Pietro escrevera.
E após 2 anos de sua morte, Diogo tentava se recuperar do luto.
(...)
~ Era dia 4 de fevereiro de 2008~
Diogo convidara Pietro, para passar um final de semana na casa de veraneio, junto com os seus pais.
O pai de Diogo, não gostara de ideia.
Não gostava do filho ter um romance com outro rapaz.
Não aceitava e preferia se calar sobre o assunto...
Numa manhã ensolarada, todos foram para a praia.
O mar estava tranquilo e agradável.
Passaram o dia todo na praia, desfrutando da beleza paradisíaca do local e descansando um pouco da cansativa semana que tiveram...
~ O relógio marcava 20:00 hrs.~
Os pais do Diogo sairam para tomar sorvete na pracinha.
Diogo e Pietro estavam à sós.
Foram para o quarto.
Embalados ao som de ''Glory Box''  do Portishead, o casal de adolescentes se entreolharam.
Um beijo quente. Uma carícia. Um afago. Um gemigo...
Pequenos pêlos nasciam em suas faces. Ambos com 17 anos de idade... Pêlo com pêlo. Homem com homem. Sexo com sexo...
                                        ~.~
Agora Diogo, voltara a casa da praia.
Com o corpo cansado, dolorido e um sentimento angustiante de perda.
Resolveu passear na praia e refletir um pouco.
Subiu nas pedras, admirando e observando o mar.
Tentando se distrair ao ver a linha do horizonte ele, mais uma vez, pensou em Pietro.
E de como sentia uma saudade doída, sofrida e retrógrada.
Sentia saudade dos planos, das certezas e de como olhavam juntos na mesma direção.
Olhou para o céu e perguntou com uma voz embargada:
-'' Aonde está você agora, além de aqui dentro de mim?''
Não recebeu respostas.
Pensou em fazer uma loucura. Se matar, para tentar ao menos, ser feliz novamente.
E olhou para o mar.
Belo, límpido, profundo e misterioso.
E percebeu que o suicídio não era a melhor forma de resolver o seu sofrimento.
Que a vida continuava e se entregar, realmente, era uma bobagem.
Falou baixinho para o seu coração:
- ''Lembra que o plano, era ficarmos bem...''
Caminhou em direção ao mar e avistou delicados cavalos-marinhos.
Sabia que a partir dali, mudanças iriam ser bem-vindas e a sua dor, um dia, iria cessar.


''Sei que faço isso
Pra esquecer
Eu deixo a onda me acertar
E o vento vai levando
Tudo embora...'' 

Um comentário:

  1. Eu praticamente pude sentir o mesmo vento, o mesmo esgar do mar contra as rochas, o mesmo pesar denso no ar do litoral.
    Lindo e profundo, Bruna. Apesar daquele post ~animado~ de ontem, minha vibe hoje está litorânea e chuvosa.
    Obrigado pelo texto, lindo e cálido.
    Beijos!

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