terça-feira, 16 de julho de 2013

Fotografia


bubble on imgfave Era uma tarde de primavera.
Muriel observava Fernando.
A longa barba, os cabelos castanhos encaracolados, os olhos miúdos e serenos encantavam a moça.
Deitado em folhas secas, ele fazia charme para ela.
Estavam no Parque Ibirapuera.
Muriel tinha um laço afetivo com o lugar.
As tentativas de aprender a andar de bicicleta na infância e vários encontros com amigos na adolescência ao sabor de muito violão e paixões traziam uma leve nostalgia que aquecia o seu coração.
Abriu uma garrafa de vinho e bebericou com o amado.
Fernando apontava com o dedo indicador todos os pássaros que avistava e tentava lembrar o nome de cada um deles.
Rouxinol, sabiá, João de barro, bem te vi...
Apreciava a liberdade dos pássaros.
Como invejava as suas asas e o seu belo bico!
Imaginava como seria voar, sentir o vento e dar piruetas no ar...
De mãos dadas, caminharam sobre o parque.
Fernando avistou um livro velho na grama e Muriel foi correndo pegá-lo.
A capa era vermelha com letras douradas indecifráveis.
Abriu em uma página qualquer e leu um trecho que estava grifado com caneta:
''(...) Ah, e dizer que isto vai acabar! que por si mesmo não pode durar.
Não, ela não está se referindo ao fogo, refere-se ao que sente. O que sente nunca dura, o que sente sempre acaba, e pode nunca mais voltar. Encarniça-se então sobre o momento, come-lhe o fogo, e o fogo doce arde, arde, flameja.
Então, ela que sabe que tudo vai acabar pega a mão livre do homem, e, ao prendê-la nas suas, ela doce arde, arde, flameja. ''
Algo pulsou em Muriel.
Deu um quente beijo em Fernando e no exato momento, uma criança fotografou com uma câmera Polaroid o casal.
A fotografia caiu sobre a grama.
Onírica e ocre, magicamente a fotografia voou sobre o ar...

Trilha sonora: Marcelo Camelo- Téo e a gaivota.