quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Cicatriz

Era quase meia-noite.
O piano dedilhava notas desconhecidas.
Folhas secas ornamentavam a cauda do instrumento.
Uma luz azul era forte e densa no recinto, atrapalhando a chegada da moça em sua morada.
Tudo era tão frio, mas, ao mesmo tempo, aconchegante, que a moça sentiu um arrepio ao entrar em sua casa.
Adentrou, atenta ao piano.
Como poderia um instrumento, tocar sozinho?
A moça se impressionara.
Era tudo tão mágico e lúdico....
Sentou-se no pequeno sofá.
Reflexiva, tentava entender o motivo, pelo qual, exaltava o saudosismo.
Por que se consumia de recordações e lágrimas.
Houvera diversos motivos e decifrá-los era a sua tarefa mais árdua.
Olhou para a escada-caracol.
Viu que era divertido subrir nela, e resolveu subir, olhando para a parede decorada com quadros de imagens do cinema e artistas pelos quais era fã.
Jane Austen, Frida Kahlo, cenas do filme ''Casablanca'', entre outros.
Apreciava a arte e todas as suas formas de expressão.
Chegou em seu quarto.
Olhou para o grande espelho, que habitava o local.
Estava com um longo vestido branco, bordado de renda.
Algo dizia em sua mente, que deveria ficar nua.
Assim, o fez.
Notou sua pele, quase pálida.
Seus olhos pintados com uma sombra cinza-grafite.
Seus lábios delicados com um batom vermelho intenso.
Uma rosa tauada em seu ombro direito.
Lentamente, suas mãos macias começaram a tocar em todo o seu corpo.
Acariciando... Sentindo as texturas, as nuances... Descobrindo partes desconhecidas. Sem medo, do que poderia descobrir e conhecer.
Nas costas, havia uma cicatriz enorme, que a moça tentava esconder de todas as maneiras.
Mas ali, sozinha, percebera que a cicatriz fazia parte da sua essência, da sua história e escondê-la, seria um erro.
Pétalas de rosas brancas e vermelhas cairam sobre o seu corpo delicado e esguio.
Uma felicidade sincera estava à caminho.
Se vestiu e deitou, tendo os melhores sonhos possíveis.

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