domingo, 6 de julho de 2014

Belezas Sensoriais



O céu se encontrava com tons amarelados e alaranjados, como se fosse pintado por aquarela.
As três amigas se despediram, mas Íris continuaria no local. O piquenique foi apreciado com muitas risadas, conversas, vinho e poesias. A moça estava com um belo vestido rosé com bolinhas brancas e um enfeite ornado em seus cabelos.
Sua intenção era caminhar sozinha no parque, pois queria saciar a liberdade de fazer algo solitário, sem julgamentos e ponderações.
Num simples ato repentino, guardou seus sapatos brancos de salto alto na sacola e começou a andar de pés descalços, sentindo a textura da grama levemente molhada.
Percorreu um longo destino até avistar uma mariposa branca sobre uma voluptuosa flor azul e deixou que o pequeno animal brincasse entre seus dedos, que levou em direção a um lago. Sobre o reflexo da água, notou sua face misteriosa: Boca pintada com vermelho forte, capaz de mostrar sua sensualidade e desejo de maturidade; olhos expressivos cobertos por um rímel fosco preto; bochechas rosadas que tampouco, escondem sua timidez e um sutil recato, seu pequeno nariz que capta os mais singelos aromas.
Achou-se sensível e não menosprezou seu jeito de ser, aceitou e continuou a caminhar.
Cansada, sentou-se em uma grande pedra cinza e opaca, enquanto foi deixando sua imaginação aparecer: Libélulas verdes fluorescentes, flores de um tamanho exagerado e muito maior que o normal, um imenso piano dedilhado por alguém invisível e notas musicais escritas no ar. Era um apunhado de imagens inconscientes num ambiente telúrico e onírico.
Íris, em seu significado anatômico, era a parte mais visível e colorida dos olhos e a moça, estava fazendo jus ao seu nome: Observava cada detalhe de seu campo imaginativo, como se fosse tocar no que era impalpável.
Atenta e curiosa, escutou um som pouco audível , seguiu em direção aos seus instintos e percebeu que no chão, havia uma curva assimétrica e rítmica que movimentava uma água cristalina e límpida.
Sua percepção estava latente e teve a impressão que iria desmaiar. Resolveu pegar uma folha suculenta da árvore, apertar até sair um líquido gosmento e cheiroso e comer aquilo que desconhecia. Uma comunhão secreta  entre o mais profundo da planta e o sabor do mistério.
Continuou a caminhar e a água escorria num lindo labirinto formando uma arte secular.
O encontro de Vênus com Afrodite estava prestes a acontecer...
Íris despiu-se, deitou-se no chão, tocou suavemente seu corpo sentindo prazer e amor.
Nua, de corpo e alma, correu até a cachoeira e num ato epifânico, mergulhou sobre a água gelada e cálida.
Sentia a dor e a alegria de viver. Num impulso, banhou-se através do entardecer e continuou a caminhar em busca de transcendência e beleza.