domingo, 23 de março de 2014

O Sopro do Lunar...

14 h 05 | via Tumblr
Era noite de lua nova. A fase mais sombria do lunar. Muitos acreditam que é o período de maior profundidade, subjetividade e mistério. A sombra humana se mostra com mais intensidade e volúpia.
O céu arroxeado e com pouca penumbra, iluminavam sutilmente a janela de um quarto.
Como se fosse uma câmera, dava para registrar o quarto com móveis e objetos ao estilo retrô.
Um vestido longo azul e aveludado sob uma cama organizada e arrumada.
No chão, sapatos de salto alto e sobre um móvel de madeira ornamentado com desenhos circulares, havia um espelho redondo e produtos de maquiagem.
A moça de olhos puxados e pequenos, colocou brincos de pérola branca nas orelhas e teve uma sensação estranha.
Não sabia nomear se era ansiedade ou um forte prazer.
O peito doía e seu corpo tremia como um terremoto.
Percebeu que era uma forte emoção, como se a vida dentro dela estivesse nascendo.
Soltou um sopro de ar e tentou se acalmar. Fechou os olhos e mentalizou algumas figuras coloridas que acarinhavam seu corpo.
Agora, calma e disposta, foi em direção ao seu perfume.
O vidrinho delicado continha pétalas de flores, algumas essências e produtos químicos. Essa mistura, ela não contava para ninguém, nem para as suas amigas que apreciavam o cheiro. Sempre achava que deveríamos ter algo secreto, íntimo e muito particular para fazer parte do nosso próprio ser.
''O perfume sou eu''- dizia.
(...)
Foi à caminho do baile.
Esquecera que era uma festa de máscaras.
O rosto quase nu com pouca maquiagem, selvagem e totalmente visível, a constrangeu.
Lembrava que no antigo teatro grego, os atores, antes de entrar em cena, pregavam ao rosto uma máscara que representava pela expressão, qual seria o papel que cada um deles iria exprimir.
A sua face era uma máscara?
Flutuou no devaneio, enquanto as pessoas dançavam elegantemente ao som de jazz.
Andou pelo salão à procura de alguma pessoa conhecida ou alguém para conversar. Não encontrou.
Sentou-se em uma mesa e pediu para o garçom, uma taça pequena de licor de jabuticaba.
Um rapaz muito bonito, alto e calmo, a convidou para dançar.
Ela ficou temerosa e disse para ele que não sabia dançar.
Levantou e seguiu os olhos afetuosos do rapaz.
Os passos leves, suaves e soltos pareciam poesia cantada.
Um beijo caloroso e carregado de emoções, selou um novo acontecimento.
Ela falou baixinho no ouvido dele:
''Tudo que posso te dar, é solidão com vista pro mar ou outra coisa pra lembrar...''
Ele compreendera e percebeu que a moça tinha um jeito diferente de ser. Poético.
Foram embora com o amanhecer demonstrando sua nova forma.


Trilha sonora: Marina Lima- Não sei dançar.